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8.2.11
7.2.11
10.7.10
30.6.10
26.5.10
Memória Inventada
Hoje eu inventei uma memória
Acordei com a imagem na idéia
A criança que eu fui: Não sou!
O herói que me salvou: Não é!
Ausentes do passado
Inventados no presente
Lugares nunca visitados
Um labirinto de saídas
E uma paisagem recortada
Invenção horizontal
Estou agora no depois
E quando chegar a vez
Estarei no antes
E o fim...
18.5.10
Horas do Dia Terrestre

Entre passos leves e ligeiros cotidianos
Outros pesados passos marcados no chão
Coreografia ritmada pelo tempo
Meu descompasso compõe uma musica
A cidade dança o espaço que ocupa
Eu danço o caos como um antigo recente samba
O dia não sabe onde está indo
Porque não sabe onde esta
Sigo a linha do contorno com muito cuidado
Para não cair na roda
E correr o risco de ser riscado
Na confluência do fluxo
Faço a curva do incessante incerto
E quando percebo estou de volta
Rocha
28.3.10
Lugar II
Chão áspero
Moinho em movimento contrário
Catinga e uma estrada de horizonte
Na cabeça a cabaça
No pé a pele grossa
O vento em brisa banhou
E o sol anunciou luz lá em Pilão Arcado
Um galo rouco canta e uma galinha cega manca
Terreiro grande cercado de Aroeira e Jurema
Um pé de cola outro de siriguela
Limoeiro sem cor
Resina de angico só depois do jantar
Mocanã no colar
Água barrenta lá no barreio
Macaxeira lá na casa de farinha
Maniçoba no chiqueiro de cabras
A floresta de palmas
O céu de estrelas
E o quadro na sala não quer dizer nada.
Rocha.
17.3.10
Lugar I
12.2.10
20.12.09
1.11.09
Ponto de Partida.
Afoguei-me em poças rasas
Cheguei aqui!
Corri estradas longas
Pisei descalço o chão de pedras
Cheguei aqui!
Perdi o sono
Eu vi o sol nascer três vezes
Cheguei aqui!
Alcancei as alturas da grande arvore
Saltei do prédio no centro da cidade
Cheguei aqui!
Cai em porões escuros
Cavei buracos e surgi no asfalto
Estou partindo.
Rocha Farias.
Moreira Campos. Quem?

Não acredito que alguns amantes da Literatura Brasileira ainda não conhecem o Moreira Campos. Infelizmente a pouco reconhecimento dedicado a este escritor que é, na minha opinião, o melhor contista da literatura cearense, senão o melhor do Brasil. Mas não vejo nisso razão para não lê-lo, e até acho que o anonimato no qual ainda reside o contista Moreira Campos o torna um autor ainda mais interessante aos meus olhos.
Semana passada eu fui às Livrarias: Cultura e Fnac, os funcionários não conhecem este escritor e a livraria não tem se quer uma obra dele. Procurei em muitos Sebos, mas também não encontrei nada!
Meu primeiro contato com o Moreira Campos foi quando eu assistia o programa da TV Cultura: Contos da Meia Noite, a estética da sua escrita me despertou muito interesse em pesquisar mais sobre sua Obra, e descobri contos maravilhosos como : As Vozes do Morto, Os Doze Parafusos, Dizem que os Cães Vêem Coisas entre muitos outros...
- Está em casa, Seu Damião!
- Ora!
- Sei.
- Por causa da mulher.
- Sei.
Evidentemente um desastre, que teve de fechar sua casa de negócio em Belém do Pará, sapataria de luxo, vindo para aqui, onde reabriu oficina modesta, mas limpa, pegada à sua casa: o bom arranjo das prateleiras, a cortina de gorgorão vermelho na porta do centro do escritório, E ali no balcão Seu Damião recebe a freguesia, surpreendido sempre por cima dos óculos grossos:
Possível sem dúvida acreditar nas vozes do morto. Estarão presentes sobretudo nos monólogos de Seu Damião. Os trejeitos, o tique nervoso dos olhos, ajeitando os óculos, os repetidos gemidos, dar de ombros ou a rabiçaca brusca do pescoço. Particularmente enquanto toma a sua pílula. É como se conversasse com o próprio vidro de remédio:
O das costeletas acendia mais um cigarro.
Movimentos, todos esses, que eram vigiados por Mercedes, a solteirona da casa próxima. Vigiava-os pela banda de janela, e logo mais estabanadamente largava-se por dentro de casa, cantarolante e arrastando as chinelas:
- Boa tarde.